A ENCHENTE
O município de São Luiz do Paraitinga, com cerca
de 11 mil habitantes, localizado no Vale do Paraíba, Leste do Estado de São
Paulo, famoso por abrigar um casario de 437 imóveis dos séculos XVIII e XIX
tombados pelo CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico – e um dos carnavais mais concorridos do
estado (estima-se que 140 mil pessoas tenham pulado pelas vielas de
paralelepípedos emoldurados por casinhas de fachada colorida em 2009) sofreu a
maior enchente de sua história no primeiro dia do ano de 2010. O rio
Paraitinga, que “corta” a cidade, transbordou. O nível do rio subiu
aproximadamente 15 metros e inundou, quase que, todo o município. A
água chegou a cobrir o telhado de diversos imóveis. As poucas horas de forte
chuva deixaram a cidade isolada (acessos por terra foram interditados), sem
energia, com fornecimento de água comprometido e 80% de seus prédios históricos
em ruínas. O fato de boa parte ser construído com taipa de pilão e pau a pique,
estruturas que levam principalmente barro em sua composição, beneficiaram que
suas paredes amolecessem e viessem a abaixo. A Igreja Matriz foi aniquilada.
Estima-se que 300 edificações — residências, padarias, supermercados,
farmácias, consultórios odontológicos e até o prédio da prefeitura — tenham
sido total ou parcialmente destruídos.
Cerca de 9.000 pessoas foram obrigadas a deixar
suas casas (quase toda a população). 4.000 pessoas ficaram desabrigadas e foram
encaminhadas para abrigos públicos. 5.000 desalojados aguardaram a água baixar
em casas de amigos ou parentes.
OS
MOTIVOS
Embora as chuvas em proporções nunca
registradas, especialistas acreditam que os danos causados poderiam ter sido
evitados, visto o conhecimento e as condições técnicas suficientes. As
autoridades, no entanto, continuaram ignorando as orientações de identificar e
isolar as zonas de risco, além de impedir a destruição das áreas de preservação
permanente.
A ocupação desordenada da região, que teve
início na segunda metade do século XVIII, é um dos fatores determinantes à
tragédia. Desde então, a mata ciliar do Rio Paraitinga foi completamente
destruída em seu trecho urbano. Esse tipo de vegetação tem a função de conter
enchentes e proteger o leito contra dejetos que deixam sua calha mais rasa.
Desde a década de 90, as cheias têm se tornado
frequentes. Em 2009, o rio transbordou seis vezes. Foram registrados 602
milímetros de chuva na região, 322 acima do esperado para o período.
O DEPOIS
O cenário foi (e ainda é) de retomada. O
município estava no fim do processo para adquirir o título de Patrimônio
Histórico Nacional, mas interrompido pelo desastre, dificultou a liberação de
recursos federais. Ainda sim, houve assistência por todos os lados: Poupatempo,
Defesa Civil, Polícia, Bombeiros, Central de Voluntariado, Central de Doações,
Santa Casa. Quem perdeu a casa e não pôde reconstruir, teve prioridade no novo
Conjunto Habitacional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano
(CDHU), do governo estadual e um sistema de alerta com pluviômetros foi instalado
na cidade a fim de alertar os moradores quando o risco de enchente é iminente.
Após dois anos, 80% da cidade foi
reconstruída. A grande perda, diz respeito à recuperação da história. A
possibilidade de retomar muita coisa a partir de referências é forte, mas outra
boa parte lamentavelmente se perdeu. Terá sequelas, será lenta, dependerá de
trabalho especializado e vontade política. O carnaval, por sua vez, já está de
volta.
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23.02.2006. Foto: Hélvio Romero. |
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05.01.2010. Foto: José Patrício.
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06.12.2007. Foto: José Patrício. |
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05.01.2010. Foto: José Patrício. |
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29.12.2007. Foto: Hélvio Romero. |
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05.01.2012. Foto: José Patrício. |
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26.11.2007. Foto: Paulo Liebert. |
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05.01.2010. Foto: José Patrício.
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Elizabeth dos Santos Moraes
Letícia Cruz da Invenção Silva
Raquel Gomes Garcia
Steffani Cadete Aud
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